27/11/2017

Sobre o amor que adoece...



Honestamente, não me cabe chamar isso de amor, chamaria então de apego. Todos nós, ou a grande maioria de nós, já passamos por um relacionamento ou por uma fase no relacionamento a qual nos sentíamos inseguros e como conseqüência muitas turbulências na relação. O que quero conversar com vocês hoje é sobre até onde vai o nosso limite em agüentar determinadas situações que vivenciamos nos relacionamentos que podem ser provocadas pelo outro ou por nós mesmos.
Muitas vezes nós nos tornamos tão vulneráveis a ponto de anular quem somos em prol de uma relação amorosa. Ser vulnerável não é algo ruim, porque a vulnerabilidade é o que nos torna mais humanos (nos humaniza), porém, essa vulnerabilidade precisa ser equilibrada, como tudo na vida. Em muitos momentos a gente nega tanto a si próprio que o outro termina tomando as rédeas da nossa própria vida e terminamos por nos deixar levar diante da situação. Em muitos momentos o outro também nos causa tanta dor, tanta insegurança que terminamos por aceitar essa condição sem tomar a consciência que não somos merecedores disso, que não estamos aqui na terra para somente sofrer, no sentido da relação lhe causar mais dores do que alegrias.
Esse negócio de dizer que numa relação saudável não há brigas é a mais pura mentira que nos inventaram, ao menos na minha convicção e você pode discordar tranquilamente de mim. As discussões e os momentos ruins de uma relação são importantes para o crescimento do casal bem como para o crescimento pessoal também, porém, existe uma coisa chamada bom senso, porque uma coisa é o casal ter aquela fase ruim e precisar passar por aquilo e outra coisa completamente exagerada é você viver num relacionamento que tem brigas o tempo todo, que você não consegue sentir paz e tranqüilidade um só momento, que se você colocar na balança vai perceber que a relação lhe traz mais desconforto emocional do que conforto e é aí que mora o perigo, e é aí que a gente precisa ligar o sinal de alerta e buscar entender se realmente vale à pena continuar nessa condição. Tem um versículo bíblico que acho muito interessante e que me inquietou muito esses dias quando li que diz assim, ‘’Nunca discuta sem motivo com alguém que não lhe fez nenhum mal’’ (Provérbios 3:30) e eu particularmente me vi muito nesse dito, porém, algumas coisas precisam ser esclarecidas.
Em muitos momentos a gente precisa perceber quem é que está deixando a relação nessa rotina de cão e gato, se é o outro quem provoca demasiadamente ou se somos nós mesmos que advindo de nossas inseguranças provocamos essas brigas constantes, na qual terminamos muitas vezes, por colocar a culpa das nossas frustrações no outro e isso é muito ruim, pois depositamos as nossas expectativas no outro e mais ainda, colocamos a responsabilidade que deveria ser nossa, de resolver os nossos problemas internos no outro e isso é muito complicado, porque está em nós, o outro não tem nada a ver com os nossos problemas e a gente faz com o outro torne parte dele, é como se você não se amasse e quisesse que o outro ame a ele próprio e a você mesmo como se fosse você quem tivesse se amando, como se ele fosse responsável pelo seu auto-amor. Isso é muito perigoso e a gente precisa rever isso em nós e procurar nos melhorarmos. Tem um vídeo de uma youtuber, Thays Lessa, que eu achei maravilhoso e vou deixar aqui caso alguém queira assistir, isso complementa a nossa conversa (link).
Porém, muitas vezes é o outro quem provoca tal situação, pois cria um ambiente de desarmonia, no sentido de que ele faz as coisas para que o companheiro ou companheira se sintam inseguros, desconfiados e desgostosos da relação. Por exemplo, você discute com o seu companheiro sobre determinada atitude que prejudica o relacionamento, diz que aquilo magoa e incomoda e ele repete os mesmos erros tendo a consciência de que aquilo não é positivo e aí essa repetição de erros junto com as mesmas conversas ou monólogos vai desgastando a relação aos poucos, fazendo com que se perca a harmonia e conectividade do casal. Então é aí que a gente precisa parar e pensar se realmente é válido para a nossa vida manter uma relação que nos faz mal, que nos adoece aos poucos e que nos anula enquanto ser humano. Será mesmo que vale a pena a gente viver em constante sofrimento? Será mesmo que nós somos merecedores disso? Será mesmo que vamos deixar o outro nos machucar a tal ponto de nos tornarmos invisíveis, no sentido do outro não ser empático com a nossa dor e não se importar com o mal que está nos causando?  É, porque a partir do momento em que a pessoa tem a consciência de que está nos magoando ela está sendo irresponsável com os nossos sentimentos, visto que a responsabilidade afetiva é fundamental e que quando nos relacionamos com o outro, nós nos tornamos responsáveis pelo sentimento que se é construído a dois. Será que isso que sentimos pelo outro não é apego? Ora, se realmente amamos uma pessoa deixamo-las livres e mais ainda, se ela nos causa sofrimento demasiado e a gente aceita significa que está faltando amor em nós, significa que não estamos nos dando o valor devido, significa que a nossa identidade está perdida e isso faz com que a gente termine aceitando qualquer coisa e por ‘’qualquer coisa’’ ficamos satisfeitos.
Sinceramente, eu acredito sim que quando uma relação não deu certo foi porque ambos cooperaram para que isso acontecesse, visto que uma relação é construída a dois. Mas, também precisamos identificar em nós quando estamos tentando fazer a relação dar certo em vão porque não adianta a gente querer e o outro não estar disposto para, é preciso ter harmonia e querer mútuo. Ambos são responsáveis pela felicidade da relação e ambos precisam por vontade própria querer.
Sei que muitas vezes não é fácil se desligar de alguém porque o amor que a gente constrói com o outro é na maioria das vezes o amor com apego, o que é normal obviamente, não há mal algum se apegar, só que a gente precisa de equilíbrio nesse sentido para não terminarmos nos anulando; e necessitamos perceber também se esse apego já não está numa fase de nos causar desconforto, no sentido desse apego se tornar possessividade.

Então, para finalizar a nossa conversa, o que eu quero deixar de reflexão hoje é que a gente tente olhar para si e ver o valor que temos, ver quem realmente somos e mais ainda, se questionar se somos mesmo merecedores desse amor que adoece. Lembrem-se, eu não estou fazendo apologia ao o ‘’não lutar pelo amor’’ até porque eu acredito que uma relação deve ser consertada, é tipo quando tu compras um brinquedo para o seu filho e ele quebra alguma peça, você vai jogá-lo fora ou vai consertar? Perceba que o contexto é diferente. O que eu vim conversar com vocês e o que me motivou a escrever isso é se realmente vale a pena a gente insistir em algo que só nos faz mal, se realmente vale a pena a gente insistir em algo sozinho, se realmente vale a pena a gente insistir em estar com alguém e mesmo assim não se vê com aquela pessoa. Enfim, espero muito que essa reflexão nos ajude de alguma forma, porque como sempre, antes mesmo de compartilhar o pensamento com vocês eu reflito muito para mim.

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