24/07/2017

Papo das Manas: Precisamos falar sobre abuso sexual na infância

     


     Nós precisamos falar de abuso sexual. Sim, eu já fui abusada sexualmente durante a minha infância e não, os meus pais não denunciaram e não, não foi só uma vez. Antes tivesse sido apenas uma vez, mas infelizmente eu não tive essa ‘’sorte’’. E sim, o meu pai continua ‘’amigo’’ do meu abusador. Difícil falar, me pergunto até agora como estou tendo essa coragem de compartilhar com vocês algo tão íntimo da minha vida e algo que praticamente ninguém sabe. Mas, às vezes precisamos de coragem para encorajar outras mulheres a não se calarem diante de uma injustiça sofrida por causa desse machismo tão perverso.
     O engraçado disso tudo é que isso não me dói mais, mas hoje, exatamente hoje, me doeu falar sobre isso. E o engraçado é que mesmo eu com meus 20 anos de idade, eu não consigo esquecer nenhuma cena dos abusos que sofri por um cara que se dizia amigo do meu pai, mas que me obrigava a fazer coisas absurdas (que eu não quero dizer aqui). Meus pais nunca devem ter notado a minha postura, no dia em que notaram foi quando cheguei em casa chorando e dizendo que queria o celular que o abusador iria me dar, caso eu fizesse sexo oral nele - e eu havia feito e chorei porque ele não deu o celular -(não falei com essas palavras, obviamente). Eu acho que devia ter uns 10 a 11 anos de idade e independente do interesse aquisitivo pelo celular, eu era UMA CRIANÇA! E, eu acho que no primeiro momento eles não acreditaram nas minhas palavras. Sabe a esposa dele? Continua com ele até hoje e até hoje não acredita em mim. E tenho certeza que não só fui eu a vítima dele.
     O abusador era o pai da minha coleguinha de infância e sabe o que me dói ao lembrar? É que ele não teve um pingo de sensibilidade em se colocar no lugar da própria filha dele que é uma mulher. E sabe o que me dói mais ainda? É saber que o meu pai ainda voltou a ser amigo desse monstro e é até hoje. Antes fosse só isso, num certo dia aqui onde moro houve um homicídio e esse homem que foi morto tentou estuprar uma menina e o meu pai o defendeu. Eu fiquei horrorizada quando ouvi isso da boca dele, ele estava bêbado, mas independente de como ele estivesse, isso me doeu muito.
     Hoje eu não tenho mais coragem de denunciar, não tenho coragem de voltar atrás com um acontecido tão triste, denso e doloroso. Não tenho coragem de voltar à tona todo esse acontecimento para denunciar algo que hoje não adiantará mais de nada, hoje tenho medo do que me poderia acontecer caso eu denunciasse.
     Quando me reconheci como feminista, percebi o quanto eu era forte e o quanto esse passado doloroso não me anularia como mulher e nem me diminuiria porque a culpa não era minha, nunca foi. Hoje eu digo a vocês, não faça como eu, não faça como os meus pais, denunciem. Acreditem nos seus filhos, observem o comportamento deles, conversem com eles. Infelizmente abusos sexuais acontecem com crianças de um modo geral, meninos e meninas sofrem com isso. Eu não quis adentrar a fundo sobre isso porque não gosto de exposição e porque me doeu tocar no assunto com vocês porque me veio à tona muitas coisas e fiquei um tanto que instabilizada emocionalmente. Espero que vocês me entendam e espero também que eu consiga ao menos um pouco encorajar vocês a nunca se diminuírem por causa dos abusos sofridos, por causa dos assédios sofridos, a culpa não é sua. Eu entendo a tua dor. Te desejo muita força, mulher! Você não está sozinha. 

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