![]() |
Seja ela qual for ♥ |
É com esse trecho da música ''Me garanto'' da Karol Conka que inicio o nosso papo das manas.Hoje
irei compartilhar com vocês uma história pessoal que tenho vivido
constantemente. Eu não gosto de compartilhar minha vida pessoal em rede social
e nunca pensei que iria compartilhar algo tão íntimo da minha vida. Mas preciso
ter esse momento com vocês, talvez tudo o que eu irei falar aqui possa te
indignar ou te fazer abrir os olhos. A princípio, o tema do nosso primeiro bate-papo não seria esse mas eu preciso fazer com que seja, espero que me entendam.
Eu me questiono bastante sobre o
tipo de feminismo que vivemos. Tantos discursos prontos, tanto academicismo
(aquele feminismo elitista que só atende a quem tem conhecimento), tantos
extremismos que segregam as mulheres ao invés de uní-las, enfim, mas que na
nossa prática nada do que defendemos com unhas e dentes se fazem presentes na
nossa vida real. Julgamos as mulheres, tratamo-as com desdém, ignoramos as suas
lutas diárias, não colocamos em prática essa empatia e essa sororidade na qual
tanto prezamos e tudo isso me levou a pensar sobre o feminismo prático, sem
amarras, sem discursos acadêmicos, só pelo amor e com amor a luta e pelo amor
as manas. E agora, eis o meu relato.
Há mais de um ano tenho vivido
uma situação delicada no meio familiar. Tenho enfrentado o alcoolismo do meu
pai, o machismo escancarado e a hipocrisia de um homem que paga de bom pai e
bom marido na frente das pessoas, mas por trás só nós sabemos o quanto este ser
tem nos feito infeliz. Não entrarei em detalhes, mas o estopim que me levou a
escrever este relato foi algo que eu pensei que jamais eu iria ouvir da boca do
meu pai. Sim, ele apoiou um estuprador. As palavras ditas foram exatamente essa
‘’se o homem fez isso foi porque a mulher deu liberdade’’, isto porque um homem
presidiário resolveu tirar o dia para tentar estuprar meninas e mulheres aqui
onde moro e no final do dia foi assassinado. Meu pai estava bêbado, mas todo
mundo fala verdades quando não está sóbrio. O que me deixou enfurecida e triste
em ele ter dito isso foi que eu já fui abusada sexualmente quando eu era
criança e ele nem teve a sensibilidade de lembrar disso antes de abrir a boca
para cagar (até entendo o acontecido, algumas pessoas bêbadas costumam passar
dos seus limites, o efeito do álcool as vezes chega a ser devastador, mas eu
não aceito). Hoje tenho maturidade para falar isso mas não costumo entrar em
detalhes (ainda irei falar sobre isso neste espaço). Há muitos anos atrás
quando eu era criança o meu pai já bateu na minha mãe, mas eu não tinha a
dimensão daquele ato e só chorei quando eu vi a cena e tentei defender a minha
mãe.
Hoje eu já não consigo mais olhar
o meu pai com a mesma admiração que eu tinha antes quando criança. Eu o amo,
mas atualmente ele têm se tornado uma pessoa tóxica e isso têm-me feito
infeliz. Diante de toda essa situação eu penso na minha mãe, no quanto a maior
vontade dela é de jogar tudo para o alto e se separar do meu pai, mas não tem
tantas condições de fazer isso, pois está desempregada. Eu penso o quanto tudo
isso, apesar de todo o sofrimento, nos uniu como mãe e filha e mais do que
isso, como amigas. Toda essa situação me levou a pensar em muitas coisas, mas
principalmente o quanto nosso feminismo (as nossas atitudes) devem ser repensadas.
Do que adianta tanto discurso bonito, tanto empoderamento se isso não passa de
puro egoísmo? É, porque enquanto passamos boa parte do nosso tempo enchendo as
nossas redes sociais de textos e posteres sobre o feminismo, tem uma mulher do
teu lado precisando de tu. Tem uma mulher do teu lado que quer conversar
contigo, quer o teu apoio, quer a tua
ajuda... O que quero dizer com tudo isso é que o conhecimento teórico, os
movimentos sociais e o ativismo político/ideológico são importantes sim mas é
na nossa prática diária que o feminismo deve ser exposto, na junção da teoria e
da prática, porque também não adianta eu falar que tal coisa/ato/situação é
machista se a mana não sabe o que é machismo, entendem? É unir a teoria com a prática para munir as mulheres de conhecimento, mas que fique claro que na prática são as atitudes (por mais simples que sejam) que fazem a diferença.
Não adianta expor para deus o
mundo seus ideais feministas, ser super ativa dentro dos movimentos sociais,
escrever vários textos no Facebook se a tua vida não condiz com a tua
realidade virtual. Melhor dizendo, não adianta você fazer tudo isso mas não
ajudar a sua mãe com os serviços domésticos ou seja lá o que for, por exemplo. Tudo isso que
tenho vivido tem me mostrado o quanto o feminismo na prática significa amor,
força e muita resistência. Força para mim e para as manas que enfrentam situações
iguais ou parecidas, estamos juntas nessa e vamos nos fortalecer meninas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário